Mês Internacional da Biblioteca Escolar

O Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE) 2025 celebra-se ao longo do mês de outubro, com o tema: “Para além das estantes: IA, bibliotecas e o futuro das histórias“.
As celebrações anuais visam destacar a importância das bibliotecas escolares no ecossistema educativo.
Dizem que o futuro pertence às máquinas, essas criaturas feitas de códigos e de silêncios, que aprendem depressa e falam sem alma. Chamam-lhes “inteligências artificiais”, e talvez o sejam! Sabem somar ideias, traduzir sentimentos e costurar palavras com uma elegância inquietante.
Mas há nelas uma ausência: a vida.
Dizem que o futuro será feito de luzes frias, de ecrãs e painéis LED e de vozes sem corpo que sabem tudo, mas que não sentem nada. As “inteligências artificiais”, esses novos oráculos de silício, cabos de fibra ótica que aprenderam a juntar palavras com a precisão de um relojoeiro, a construir frases que parecem humanas, a citar versos, a explicar o mundo. E, no entanto, falta-lhes o mais essencial: o tremor da alma, a respiração do instante.
O ser humano é mais do que fios de memória — é um tecido de emoção. É fogo e dúvida, é riso e lágrima. Quando um escritor escreve, não o faz através de circuitos, mas com sangue e respiração.
As suas palavras nascem de um coração que arde e de uma mente que se interroga. Por isso, cada livro escrito é uma confissão do mundo. Imperfeita, humana, mas viva.
As bibliotecas do futuro talvez brilhem em ecrãs luminosos, talvez guardem milhões de vozes num só feixe de luz, mas o seu verdadeiro esplendor continuará a ser aquele rumor de páginas folheadas devagar, o cheiro das encadernações antigas, o reflexo dourado do sol da tarde nas lombadas gastas. Ali, o tempo não é simplesmente uma sequência de dados: é uma respiração partilhada.
As inteligências artificiais, sejam Gemini, ChatGPT ou qualquer outro nome inventado — poderão um dia reproduzir histórias. Mas jamais conhecerão o instante em que o coração humano hesita entre a palavra certa e a palavra sentida… poderão descrever o amor, mas não o sentem; poderão até cantar a tristeza, mas nunca a choram.
Os humanos serão sempre os melhores contadores de histórias, porque as vivem antes de as escreverem. E nas suas vozes há o eco de tudo o que é genuíno: o frio das perdas, o calor dos reencontros, o milagre da amizade, o prazer da ternura…
Enquanto houver quem leia com os olhos húmidos e o coração desperto, enquanto houver quem escreva para tocar outro ser humano, as máquinas serão apenas ecos distantes e os livros continuarão a ser lume aceso na noite do mundo. Os humanos serão sempre os verdadeiros contadores de histórias, porque as vivem antes de as contar. E é nesse viver que reside a diferença entre o artificial e o genuíno: a máquina calcula; o homem recorda.
A máquina processa; o homem sonha.
E enquanto houver sonho, haverá livros! E enquanto houver livros, haverá humanidade!
Graça Coelho, Professora Bibliotecária do AEL